sábado, 26 de junho de 2010

“Operação Trabalho” incorpora mais 200 desempregados

REPORTAGEM: José Attico


A data é 1º de julho. Nesse dia mais 200 homens e mulheres, alguns deficientes físicos, serão incorporados à “Operação Trabalho”, um programa da secretaria de Desenvolvimento Social e Economia Solidária que vai ao cadastro do Bolsa Família para realocar pessoas desempregadas.

Os participantes recebem um salário mínimo, passagens, trabalham seis horas por dia com o status de bolsistas da prefeitura e frequentam cursos profissionalizantes, ficando em “sala de aula” duas horas às terças e quintas e quatro horas aos sábados.

“Operação Trabalho” é a segunda ação da prefeitura, na administração Jorge Mário, que busca ampliar horizontes no capítulo da inclusão social. A primeira foi a substituição dos menores do Promaj, que trabalhavam nos estacionamentos do centro da cidade. Assediados até sexualmente, constrangidos, ameaçados quando estavam nas ruas , os adolescentes agora trabalham no interior de repartições públicas de Teresópolis durante três dias da semana.Nos outros dois, fazem cursos profissionalizantes. Ao invés de Promaj, agora nas camisas está escrito “Pique Jovem”.

Hoje, quem ajuda a ordenar o trânsito em Teresópolis são pessoas de mais de 40 anos, também oriundas do Bolsa Família. Mas ao contrário dos adolescentes, que lidavam diretamente com dinheiro, o pessoal do “Pare Legal” limita-se a indicar ao motorista que deve comprar um talão, na banca de jornais mais próxima ou em lojas comerciais, para ter direito a estacionar seu carro no local preferido. Ou disponível. Cinquenta pessoas trabalham no programa.

Nas ruas
Outros cinquenta foram agregados aos funcionários da secretaria de Serviços Públicos e, sob as mesmas condições, estão empregados nas diversas tarefas executadas pelo órgão: recuperações do piso de ruas, varrição, desentupimento de galerias e outros trabalhos de menor porte, já que caberá à futura Empresa Municipal de Urbanismo e Obras Públicas executar e/ou fiscalizar a execução de obras de maior peso. Como, por exemplo, a recuperação do Centro Administrativo, a reconstrução do antigo PAM da Barra e a construção da Casa de Passagem, obras já licitadas.

A experiência mais recente da “Operação Trabalho”, no entanto, começou há um mês e tem uma segunda vertente. No Centro de Referência da Assistência Social do Barroso, o CRAS, seis mulheres vão se adaptando às novas máquinas industriais de costura, compradas pelo município, e começam a produzir os 500 conjuntos de uniformes (camisa moletom e calça) que os atletas de Teresópolis vão utilizar nos próximos Jogos de Inverno. “Estamos fazendo uma economia em torno de 30% a 40% em relação aos preços normais do comércio”, explica a coordenadora e instrutora de costura Maria de Lourdes Granito.

São seis costureiras que trabalhavam ali mesmo no CRAS produzindo peças de artesanato para a barraquinha, montada pela prefeitura, na Feira do Alto. E de onde saíam, principalmente, prendedores de porta, bonecas e alguns enfeites comprados pelos turistas que visitam a Praça do Alto. Lulu, como é conhecida pelo pessoal do Centro, ensina a melhorar o desempenho nas máquinas, controla a qualidade do produto final e vai, aqui e ali, ensinando as artes do corte e costura. “A gente ainda está apanhando um pouco, mas daqui a pouco melhora”, diz uma das costureiras envolvidas com a produção dos uniformes.

Mulheres do CRAS
“Hoje, muitas confecções de porte, inclusive de Teresópolis, preferem baixar custos, instalando as máquinas de costura na casa dos profissionais e pagando por produção”, explica Lourdes Granito. As costureiras que dão duro no CRAS do Barroso, porém, estão divididas quanto ao futuro, quando o contrato de seis meses renováveis por mais seis terminar.

Maria Catarina Duarte de Souza, moradora no Barroso e que trabalha com artesanato há quatro anos não tem dúvidas de que sua renda mensal vai aumentar com o trabalho em que agora está envolvida. “É bom, pretendo aprender, evoluir”, diz. Sebastiana Gomes Fabrício, “que já fazia alguma roupa a mão para os filhos”, está indecisa, mas acha melhor usar o treinamento de agora para “trabalhar numa confecção”. Como as outras cinco costureiras da “Operação Trabalho”, atravessou o pátio do Centro de Referência, trocando o artesanato pela produção de uniformes.

Cristiana de Lima Silva, ex-faxineira, ex-empregada doméstica, acredita em voos mais altos: quer “montar um negocinho e trabalhar em casa”. A arrematadeira Míriam Ferreira Gonçalves “gostaria que o grupo continuasse junto, trabalhando no sistema de cooperativa”. Ela considera “um avanço grande” o aprendizado nas máquinas industriais e não quer deixar passar “essa oportunidade de aprender mais”.

É mais ou menos o que pensa a ex-dona de casa Ana Paula Santos da Silva Gonçalves, também favorável à montagem de uma futura cooperativa das mulheres do CRAS. Ela acredita que “está evoluindo profissionalmente” e acredita que “com um pouco mais de ajuda da prefeitura” a montagem da cooperativa pode virar realidade.

Ferrnanda da Silva Teixeira começou há pouco mais de um ano e meio fazendo um curso para trabalhar com artesanato. Aprendeu muito. E agora não perdeu a chance de dar mais um passo. Acha que a união das costureiras pode ser uma “solução que valha a pena”, mas não descarta a possibilidade de trabalhar numa “confecção maior”.

Trabalho, aliás, é o que não vai faltar nos próximos meses para as costureiras. A prefeitura já decidiu que os 26 mil uniformes escolares previstos para 2011 também serão confeccionados “em casa”.

Para onde vamos?
A pergunta é chave no ideário da “Operação Trabalho”. O que acontece depois que as pessoas envolvidas no processo forem substituídas por novas levas de inscritos no Bolsa Família, hoje desempregadas e sem muitas perspectivas? A idéia do programa é que depois do retorno - ainda que precário no caso de quem está vinculado à secretaria de Serviços Públicos e ao “Pare Legal” - essas pessoas possam encontrar vias melhor pavimentadas para ingressar no mercado formal de trabalho.

“Mas elas também podem decidir por montar cooperativas, micro empresas ou similares e passarem a trabalhar por conta própria”, diz o secretário Rudimar Caberlon. “Esse é, aliás, o foco principal do programa”. “O pessoal que está trabalhando nos Serviços Públicos, por exemplo, vai receber treinamento em jardinagem e paisagismo”, explica o ex-secretário de Desenvolvimento Social, Ary Moraes.

“Quem tiver treinamento em profissões como bombeiro hidráulico, pedreiro, pintor, também pode ser auxiliado a formar cooperativas de pequeno porte e, no futuro, prestar serviços para construtoras da cidade. O importante é abrir caminhos novos para quem, hoje, está sem perspectivas.

Um exemplo do sucesso de programas como “Operação Trabalho” pode ser encontrado na cantina da própria secretaria de Desenvolvimento Social e Economia Solidária. Ali, um grupo de mulheres se reuniu para preparar refeições e lanches não só para os funcionários do próprio órgão, como para outras repartições da prefeitura. Hoje muitos coffee breaks servidos no prédio da avenida Lúcio Meira saem da cantina. Detalhe: as cozinheiras, todas, já deixaram o Bolsa Família.

A idéia da “Operação Trabalho”veio de um experimento similar feito em Osasco, São Paulo. Rapidamente, porém, o atual secretário , Rudimar Caberlon e seu antecessor no cargo, Ary Moraes, perceberam que seria necessária uma adaptação para a realidade de Teresópolis. “Estamos em fase de teste permanente”, diz Caberlon, “e não pode ser de outro jeito, a coisa toda é nova, temos que ser criativos, buscar caminhos novos, inventar”.

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